Os surtos são uma das ameaças mais subestimadas nos sistemas elétricos. Uma sobretensão repentina, seja causada por raios, comutação da rede ou até mesmo equipamento interno, pode degradar o isolamento, desarmar disjuntores ou destruir dispositivos sensíveis num instante. Um dispositivo de proteção contra surtos monofásico (SPD) é a primeira linha de defesa. Ele desvia o excesso de energia para a terra e garante que a tensão que chega ao seu equipamento permaneça dentro de limites seguros.
Para engenheiros elétricos e especialistas em compras, o desafio não é usar um SPD monofásico, mas como escolher o correto. Este guia fornece uma abordagem clara, técnica e prática que combina padrões internacionais, melhores práticas de engenharia e experiência do mundo real.
Um dispositivo de proteção contra surtos monofásico é instalado em sistemas CA monofásicos de 230/240 V para proteção contra sobretensões transitórias. Ele opera permanecendo passivo sob tensão normal, mas assim que ocorre um surto, ele se torna um caminho de baixa impedância e redireciona a corrente de surto para o terra.
Os dispositivos de proteção monofásicos são amplamente aplicados em quadros de distribuição residenciais, edifícios comerciais, sistemas solares fotovoltaicos e painéis de controle industriais. Em cada caso, prolongam a vida útil do equipamento, reduzem o tempo de inatividade e garantem a conformidade com os modernos requisitos de segurança.
A seleção de um dispositivo de proteção contra surtos monofásico deve estar alinhada às normas internacionais, principalmente CEI 61643-11 e CEI 61643-12. Eles definem as formas de onda de teste, classificação e diretrizes de instalação:
Tipo 1 SPD: Testado com forma de onda 10/350 µs, projetado para suportar correntes diretas de raios. Instalado na entrada de serviço onde existam linhas aéreas ou sistemas de proteção contra raios.
Tipo 2 SPD: Testado com forma de onda de 8/20 µs, protege contra surtos de comutação e raios indiretos. Normalmente instalado em painéis de distribuição.
Tipo 3 SPD: Instalado próximo a cargas sensíveis, garante baixíssima tensão residual (Up). Usado como último estágio de proteção.
Se você quiser se aprofundar na classificação detalhada dos SPDs e como cada tipo é definido em padrões e aplicações práticas, você pode explorar nosso artigo dedicado aqui: Classificação dos SPD.
Ao comparar diferentes SPDs monofásicos, vários parâmetros são críticos para a seleção adequada:
Uc (Tensão Máxima de Operação Contínua): A tensão RMS máxima que o dispositivo pode suportar sem degradação. Para sistemas 230/240 V, o valor padrão é 275 Vca entre linha e neutro.
Acima (nível de proteção de tensão): A tensão fixada durante um surto. A eletrônica sensível requer acima de 1,5–2,5 kV.
In (corrente de descarga nominal): A corrente que o SPD pode descarregar repetidamente sem falha. Um bom SPD monofásico deve suportar pelo menos 20 kA (8/20 µs).
Imax (corrente máxima de descarga): A corrente máxima que o SPD pode suportar em um único evento, normalmente 40 kA ou mais.
Iimp (corrente de impulso): Específico para SPDs Tipo 1, testado com forma de onda 10/350 µs. Os valores começam em 12,5 kA, sendo 25 kA recomendados em áreas de alto risco.
Tempo de resposta: os SPDs atuam em nanossegundos. Quanto mais rápida a reação, melhor proteção para componentes eletrônicos sensíveis.
Esses parâmetros devem sempre corresponder ao nível de exposição do sistema, tipo de aterramento e categoria de isolamento do equipamento.
O tipo de aterramento é muitas vezes esquecido, mas é um dos fatores mais decisivos na escolha de um dispositivo de proteção contra surtos monofásico.
TT Sistemas: Requer 1P+N (também chamado de 1+1) SPD. Esta configuração utiliza proteção MOV entre linha e neutro, além de um centelhador ou elemento dedicado entre neutro e PE. Garante descarga controlada para a terra, o que é vital em TT, onde o potencial neutro pode aumentar durante faltas.
Sistemas TN-S ou TN-C-S: Pode usar 1P ou 1P+N dependendo do design do quadro de distribuição. Os caminhos linha-neutro e linha-terra devem ser protegidos.
Sistemas TN-C: Geralmente aplicam SPDs 1P ou 2P dependendo se o condutor PEN está acessível.
Para todos os sistemas, as regras de ligação permanecem as mesmas: mantenha a ligação à terra do SPD o mais curta possível, idealmente inferior a 0,5 m. Cabos longos aumentam a indutância e, portanto, aumentam a tensão residual que o dispositivo protegido verá.
Este é o cerne do processo de tomada de decisão. Muitos engenheiros e compradores pesquisam especificamente como escolher um SPD monofásico, portanto, esta seção fornece um roteiro prático e detalhado:
Determine se o edifício possui sistema externo de proteção contra raios (LPS) ou é alimentado por linhas aéreas. Se sim, é obrigatório um SPD Tipo 1 na entrada de serviço. Para abastecimento subterrâneo em áreas de baixo risco, um Tipo 2 de alta capacidade pode ser suficiente.
Verifique se sua instalação é TT, TN-S, TN-C-S ou TN-C. Isso determina se você precisa de um SPD 1P, um SPD 1P+N ou um SPD 2P. Selecionar a configuração de fiação errada pode tornar o SPD ineficaz.
Na entrada de serviço: SPD Tipo 1 ou Tipo 1+2 combinado.
Nos painéis de distribuição: Tipo 2, com In ≥ 20 kA e Imax ≥ 40 kA.
Em cargas sensíveis: Tipo 3, para reduzir Up abaixo da resistência de isolamento de dispositivos eletrônicos.
Combine as classificações do SPD com o seu sistema:
Uc: 275 Vca para sistemas 230/240 V.
Acima: Deve ser inferior à categoria de isolamento do equipamento (IEC 60664: Cat II ≈ 2,5 kV, Cat III ≈ 4 kV).
In/Imax/Iimp: De acordo com nível de instalação e zona de risco.
Os SPDs devem trabalhar juntos. O dispositivo a montante deve absorver energia sem passar tensão destrutiva a jusante, enquanto o SPD a jusante ajusta a proteção. Mantenha pelo menos 10 metros entre os dispositivos ou insira indutância de desacoplamento para garantir o compartilhamento adequado de energia.
Todo SPD requer proteção de backup. A menos que o SPD inclua um fusível integrado, instale um MCB ou fusível em série. Isto evita eventos de curto-circuito quando o SPD atinge o fim da vida útil.
Os SPDs degradam com o tempo. Escolha modelos com:
Janelas de indicação de status que mostram condições verdes/vermelhas.
Contatos de sinalização remota para monitoramento em sistemas de controle.
Módulos plug-in substituíveis, portanto a manutenção não requer nova fiação.
Seguir este processo passo a passo garante que seu SPD monofásico não seja apenas classificado corretamente, mas também instalado e mantido corretamente para confiabilidade a longo prazo.
Mesmo os melhores dispositivos de proteção monofásicos falharão se instalados incorretamente. Siga estes princípios de engenharia:
Mantenha os cabos curtos e diretos, menos de 0,5 m.
Separe os cabos de alimentação e de sinal para evitar surtos de acoplamento.
Não agrupe os cabos SPD com circuitos protegidos.
Sempre conecte o aterramento do SPD à barra de ligação equipotencial mais próxima.
Respeite as distâncias de coordenação entre os diferentes estágios do SPD.
Erros comuns incluem instalar apenas um estágio, esquecer a proteção N-PE em sistemas TT ou superdimensionar SPDs sem necessidade real. Cada um deles reduz a eficiência da proteção e aumenta os custos sem benefícios.
Aplicações residenciais: Um SPD Tipo 2 (em 20 kA, Imax 40 kA, Up < 1,5 kV) instalado no quadro de distribuição principal protege os eletrônicos domésticos contra distúrbios da rede.
Edifícios Comerciais: Um DPS Tipo 1+2 no quadro principal combinado com DPS Tipo 2 nos painéis de distribuição de piso garantem a continuidade do serviço.
Instalações Industriais: SPDs Tipo 1 com classificação de 25 kA Iimp na entrada de serviço, com SPDs Tipo 2 coordenados em centros de controle de motores e SPDs Tipo 3 protegendo CLPs.
Sistemas solares fotovoltaicos: No lado CC, use SPDs com classificação fotovoltaica. No lado CA, um SPD monofásico Tipo 2 na saída do inversor protege tanto o inversor quanto a interface da rede.
Escolher o dispositivo de proteção contra surtos monofásico certo requer mais do que apenas digitalizar uma folha de dados. Significa compreender o seu sistema, avaliar riscos, aplicar padrões IEC e combinar parâmetros cuidadosamente.
Na entrada proteja contra raios com Tipo 1.
Na distribuição, conte com dispositivos robustos do Tipo 2.
Para componentes eletrônicos sensíveis, adicione o Tipo 3 no ponto de uso.
Sempre respeite seu sistema de aterramento, práticas de fiação e necessidades de manutenção.
Ao aplicar estes princípios, os engenheiros elétricos e os profissionais de compras podem garantir que os seus sistemas não só estão em conformidade, mas também são resilientes, económicos e preparados para o futuro.